quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Adriana Martins Modesto

O Ensino da Gramática
Adriana Martins Modesto
adriana.modesto@hotmail.com
Graduando em Letras/CESJF

Podemos definir a gramática normativa como um conjunto de regras que devem ser seguidas. Ela tem a função de estabelecer regras para o uso da língua
. Sendo, então, a mais usada em salas de aula como forma de padronizar a utilização da língua materna.
 Mikhail Bakhtin vem trazer com seus estudos uma resposta responsável ao ensino da gramática, apresenta a linguagem como produto social e mostra que sua realização se dá através da interação.
Em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem, Bakhtin critica duas linhas teóricas do pensamento filosófico e linguístico vigentes: o subjetivismo idealista e o objetivismo abstrato.
Para a primeira linha teórica, o fenômeno da linguagem era um ato significativo de criação individual, sendo o psiquismo individual a fonte da língua. Para essa teoria linguística, a língua é uma atividade que se materializa sob forma de atos de fala. Assim, nada permanece instável nem conserva sua identidade. Os atos de fala constituem-se no fundamento da língua e a língua é vista como produto acabado, um sistema estável. (SOUZA, Vanessa, Entre - Rios Jornal, 2008).

Para o objetivismo abstrato, ao contrário, a fala não é objeto da linguística. Ao contrário, era separada da língua (social), priorizando os elementos constituídos pelas formas normativas da língua, cujo centro organizador situar-se-ia no sistema linguístico: o sistema de forma s fonéticas, gramaticais e lexicais da língua. Supunha ser a língua um produto que o sujeito registra passivamente. Se a língua tem um caráter estável, cabe ao indivíduo assimilá-lo no seu conjunto tal como ele é. O código linguístico seria como um código matemático, racional, só lhe interessando a lógica interna do próprio signo num sistema fechado e desvinculado das significações ideológicas, sendo seu sistema constituído de um fato objetivo externo a consciência individual. (SOUZA, Vanessa, Entre - Rios Jornal, 2008).

Podemos perceber que Bakhtin trás uma visão inovadora, distinta das demais vigentes da sua época:
Bakhtin critica essas duas correntes porque acredita que a linguagem não é um objeto engessado ou algo imóvel, determinado por regras e estruturas ou pelo psiquismo individual. A sua orientação básica da concepção de linguagem é a interação verbal cuja realidade fundamental é seu caráter dialógico, pois toda enunciação é um diálogo, fazendo parte de um processo de comunicação sempre ininterrupto. Para ele, ignorar a natureza social e dialógica a linguagem seria apagar a profunda ligação existente entre a linguagem e a própria vida. (SOUZA, Vanessa, Entre - Rios Jornal, 2008).

Nessa perspectiva, Bakhtin objetiviza um novo olhar no que diz respeito à visão instrumentalista língua materna, não mais impor a língua como um sistema centrado nas técnicas, regras e no individualismo e sim em uma concepção dialógica em que se promove a interação.
De acordo com a concepção dialógica de Mikhail Bakhtin, temos o conceito de gêneros do discurso, que engloba a noção que todo enunciado tem em comum o fato o sujeito a que se remete. E estes são relativamente estáveis, pois se eles não forem estáveis, você não identifica o gênero. E é necessário o conhecimento dos gêneros, pois este conhecimento facilitará um bom desempenho na leitura e na escrita.
Segundo Bakhtin, a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas, porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana. Os gêneros do discurso incluem de breves réplicas do diálogo cotidiano, do relato do dia-a-dia, a um texto específico, uma tese ou texto oficial. Não dar para contar: notícias, contos, poemas, provérbios, textos de opinião, cartas, crônicas, tirinha, etc.(SOUZA, Vanessa, Entre-Rios Jornal, 2008).
Percebemos que os estudos feitos por Bakhtin e as suas conclusões sobre a linguagem é algo fundamental e de extrema valia em nossas vidas. Com essa visão bakhtiniana passamos a ver que não podemos resumir a língua em apenas um amontoado de técnicas e regras. A língua vai muito, além disso, ela permite a interação com os indivíduos ao nosso redor, com os textos que lemos, etc.
 Não podemos ensinar ao aluno uma gramática pura, descontextualizada, em que o aluno apenas memorize ou decore as regras e identifique-as em frases soltas. E preciso muito mais que isso, é necessário uma contextualização. Para Bakhtin, falar de uma linguagem fora do contexto é falar de uma linguagem morta.
Ainda encontramos muitos resquícios no ensino, que faz uso dessa gramática descontextualizada que promove apenas a “decoreba”. Mas também já encontramos mudanças, podemos exemplificar essa mudança com o novo ENEM, A ideia é justamente reduzir a "decoreba". As questões apresentam as fórmulas necessárias, não significando que seja simplesmente substituir valores, ou escrever regras. Com este tipo de prova, as escolas deverão preparar os alunos para questões mais "inteligentes", favorecendo o desenvolvimento do raciocínio, da interpretação.
 A contextualização a cada dia vem tomando espaço nas provas do ENEM e dos principais vestibulares do país. Mostrando que a forma que se trabalha gramática deve ser mudada. Abre-se um novo olhar em relação ao ensino. E trabalhar com a concepção dialógica, como explica Bakhtin é deixar de lado as regras e técnicas. Enfocando na palavra-chave de Bakhtin: Contexto.

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