quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Dirce Léia Paula Padilha

O Cinema Como Instrumento Responsável e Dialógico na Educação.
DIRCE LÉIA PAULA PADILHA (UFPA)

“Esboços de antropologia filosófica. Minha imagem de mim mesmo. Qual é a índole da concepção de mim mesmo, do meu eu em seu todo? Em que ele se distingue essencialmente da minha concepção do outro? (BAKHTIN, Estética da criação verbal, p. 383)
        
 O texto cinematográfico apresenta uma dupla concepção: ser, ao mesmo tempo, um objeto artístico e um objeto cultural. Com base nessa concepção, podemos verificar, por meio dos recursos expressivos encontrados em cada filme, as relações interculturais que o leitor pode estabelecer ao confrontar sua identidade cultural com outras identidades, promovendo, assim, a discussão das políticas identitárias de diversidade cultural.
          Trata-se, pois, de uma tentativa de retirar adolescentes da inércia e do imobilismo em que se encontram diante de uma sociedade massificada, em que as leis do consumo tornam os indivíduos coisas, peças de uma engrenagem de poder. Portanto, o objetivo deste texto é abordar o cinema como o novo revitalizador de gêneros e trabalhar conceitos como ideologia, memória de futuro, dialogismo, alteridade e relações histórico-culturais dentro da estética cinematográfica.
          A construção de saberes está relacionada com as práticas de leitura e produção de textos, pelo domínio da linguagem escrita. Segundo Alfredo Bosi, em ensaio intitulado “A escrita e os excluídos”, é mediante o conhecimento que os indivíduos podem “ter vez e voz em um mundo que se fecha para os que não conseguiram transpor o limiar da escrita” (2002, p.263). A escrita é, pois, a porta de entrada para o saber letrado.
        Segundo Bakhtin “não é o conteúdo de uma obrigação escrita que me obriga, mas a minha assinatura colocada sob ela, obriga-me a assumir o compromisso, pois nesse momento realiza-se o ato responsável.”
         O trabalho tem, então, por objetivo geral debater sobre as possibilidades de como formar redes de discussão sobre comunicação, linguagem cinematográfica e cultura, permitindo novas leituras de mundo. Nesse contexto, é possível pontuar objetivos específicos pretendidos, a saber: a) como capacitar os alunos de Ensino Médio para a formação da competência discursiva na leitura e produção de textos; b) como promover discussões na sala de aula acerca do texto fílmico; c) como possibilitar as relações dialógicas que norteiam a construção das identidades culturais; e) e como divulgar os resultados da produção textual em páginas virtuais.
“{...} dois mundos absolutamente incomunicáveis e mutuamente impenetráveis: o mundo da cultura e o mundo da vida (este é o único mundo em que cada um de nós cria, conhece, contempla vive e morre {...}.” (BAKHTIN, Para uma filosofia do Ato Responsável, 2010)
             
 Na organização do trabalho com o cinema, constam: planejamento, seleção e elaboração do conteúdo a ser ministrado. O planejamento do ciclo deve levar em consideração a temática a ser trabalhada e os textos e exercícios utilizados. Quanto à seleção e elaboração do material didático, são selecionados textos de jornais e revistas para que sejam feitas as leituras intertextuais com cada ciclo de cinema.
            Considerando que todo discurso se relaciona com outros discursos nas práticas sócio-culturais, dentro do interior de um interdiscurso, ressaltam-se as contribuições da teoria de Bakthin no que diz respeito a noções como dialogismo, polifonia, intertextualidade e alteridade.
“Os enunciados não são indiferentes entre si nem se bastam cada um a si mesmos {...} Cada enunciado deve ser visto antes de tudo como uma resposta {...} É impossível alguém definir sua posição sem correlacioná-la com outras posições. (Estética da Criação Verbal, p. 297)
         
 Estabelecer uma trajetória analítico-interpretativa que pondere sobre os efeitos de sentido gerados pelos textos, articulados a seus contextos de produção e suas relações com outros textos e discursos, permitirá o envolvimento dos alunos com seus próprios discursos e com os saberes construídos na relação com o Outro, entendido com seus colegas e a comunidade na qual está inserido.

Função Social do Cinema no Brasil
O cinema atinge, desde muito, multidões em todas as proporções. Ele chega a diversas regiões, e abrange várias classes de público. Faz rir, chorar, emocionar, e com isso, serve de ferramenta também para educar. Ir ao cinema, além de ser uma forma de cultura, é um veiculo de informação.
          Da mesma forma, Stam (apud Zani, 2003, p.129) discute que o cinema, sendo um veículo de massa, trabalha com a intertextualidade quando busca estabelecer um diálogo entre gêneros, sons, imagens e filmes anteriores. Nesse sentido, Lauriti ainda admite a intertextualidade “entre autores, formas literárias, conteúdos culturais e, inclusive, entre textos provenientes de contextos semióticos diferentes” (2000, p. 91), reconhecendo também o funcionamento intersemiótico da intertextualidade.

REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. M.: Para uma filosofia do ato responsável, 2010. Pedro e João Editores. São Carlos/SP.
BAKHTIN, M. M.: Estética da Criação Verbal, 1997.  Martins Fontes. São Paulo
BOSI, Alfredo. Literatura e Resistência
LAURITI, Nádia C. Bakhtin: do palimpsesto ao hipertexto. Dialogia, V.1, Out., 2002.
STAM, Robert.  Bakhtin: Da teoria literária à cultura de massa. Trad. Heloisa Jahn. São Paulo: Ática, 1992.

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