quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Gisele Braga de Faria

A educação sob a ótica bakhtiana: o dialogismo como pilar educacional
Gisele Braga de Faria
Graduanda em Letras
Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora

Resumo
O presente artigo pretende discutir a relação da tríade: educação, interdisciplinaridade e intersemiose, como eixo do processo ensino-aprendizagem, com base nas concepções de linguagem e dialogismo de Mikhail Bakhtin. O conhecimento, na perspectiva bakhtiana, é um processo dialógico, interativista, com um sujeito agente e não passivo e submeter esse sujeito à fragmentação de conteúdos curriculares sem pontos intersecivos com a sua realidade é ser displicente com o processo educacional e negar a premissa de que a partir da pluralidade do texto literário e da riqueza da concepção da linguagem é possível articular todas as ciências e solidificar o conhecimento do discente.
Palavras-Chave: Educação, dialogismo, interdisciplinaridade, intersemiose.

Introdução
Mikhail Bakhtin (1895-1975) foi uma das maiores vozes eminentes do século XX. Filósofo da linguagem, teórico e historiador da literatura, Bakhtin revolucionou as teorias lingüísticas quando analisou o discurso em conjunto com arte e vida.
O círculo de Bakhtin, pequeno grupo de intelectuais e constituído principalmente pelo linguísta Valentin Voloshinov (1895-1936) e o teórico literário Pavel Medviédiev (1891-1938), foi extremamente inovador ao expor a linguagem como um processo dialógico e não monológico.
A significação é fruto do discurso, é constituída através dele e essa arquitetura significativa abrange locutor e interlocutor, semântica e pragmática.
Bakhtin explicita a concepção de linguagem sob a premissa da situação concreta, ponderando o contexto e a enunciação, haja vista que a concepção bakhtiana aponta para o homem como ser social, e não um ser solitário.
O “ser” se constitui no “conviver”, “ser significa ser para o outro e, através dele, para si. O homem não tem um território interior soberano, está todo e sempre na fronteira, olhando para dentro de si ele olha o outro nos olhos ou com os olhos do outro. Eu não posso passar sem o outro, não posso me tornar eu mesmo sem o outro; eu devo encontrar a mim mesmo no outro, encontrar o outro em mim. (BAKHTIN, 2003, p. 342)
A dialógica entre locutor e interlocutor, onde o verbal e o semiótico arquitetam a constituição dos enunciados, concebe a perspectiva de que a interação linguística é efetuada a partir de um contexto em que a participação igualitária é suprema. 
E é nesse sentido que expomos as concepções desse ilustre pensador russo, como base para uma construção de interdisciplinaridade e intersemiose nas diversas várias áreas do conhecimento, visto que a concepção bakhtiana da linguagem é plural, polifônica e polissêmica e, portanto, elemento articulatório na relação homem-mundo.

             I.      Interdisciplinaridade
As propostas pedagógicas, desde as mais tradicionais as mais modernas, são unânimes em afirmar que uma visão global e interdisciplinar deve ser prioridade  na organização dos conteúdos curriculares.
A integração da mais variadas áreas do conhecimento solidifica o conhecimento do discente, haja vista que os conteúdos apresentados de forma fragmentada contribuem apenas para um saber quantitativo e não qualitativo.
Justificando a proposta da integração curricular, Santomé (1998, p.187) afirma a utilidade social do currículo sendo a permissão  aos alunos e alunas em entender e  compreender a sociedade em que vivem e,  desenvolverem as aptidões técnicas e sociais, fazendo-os posicionar na sociedade de forma crítica e solidária.
 Arroyo (1994) propõe redescobrir o vínculo entre a sala de aula e a realidade social: ”conjugar o aprender a aprender com o aprender a viver”. Isso integra a concepção de conhecimento, que segundo Bakhtin, é um processo dialógico, interativista, com um sujeito ativo e interativo.
A natureza dialógica do texto literário revela o seu caráter interdisciplinar, pois a sua decodificação na abrangência de diversas áreas do conhecimento.
 Por sua natureza de pluralidade, polissemia e polifonia, a leitura é uma perfeita ferramenta para a integração de conhecimentos, evitando-se assim o ensino fragmentado e superficial.
Com base na pluralidade do texto literário e na riqueza da concepção da linguagem podemos articular as mais variadas ciências e tornar sólido e concreto o conhecimento do discente.

          II.      Intersemiose
Intertextualidade e intersemiose são complementares à interdisciplinaridade,
O dialogismo entre textos verbais e não verbais é essencial para a aquisição do conhecimento.
Viver significa participar do diálogo: interrogar, ouvir, responder, concordar etc. Nesse diálogo o homem participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra, e essa palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal. Cada pensamento e cada vida se fundem no diálogo inconclusível (BAKHTIN, 2003, p.348).

O conhecimento é produzido na interação, de forma dialógica e dialogar textos verbais e semióticos pode ser muito produtivo e motivador para o corpo discente.
A intersemiose é uma ferramenta poderosa e juntamente com o trabalho interdisciplinar forma o pilar educacional que sustenta o processo cognitivo.

       III.      Conclusão
Bakhtin  nos traz a concepção de conhecimento como  uma aquisição inerente ao interativismo. Interagir disciplinas, interagir linguagens verbais e não verbais è essencial para uma nova consciência crítica e global dos discentes.
Obviamente, para arquitetar  um discurso pedagógico baseado na teoria bakhtiniana, é preciso,  considerar o discurso dos seus interlocutores, neste caso, o aluno.

REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
_________. _______ . São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAKHTIN, Mikhail M.; VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da
linguagem. 10. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

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