quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Rafael Borges Ribeiro dos Santos

Reflexões acerca da relação entre teoria e prática geradas a partir de vivências no âmbito do projeto PIBID-ufscar
Rafael Borges Ribeiro dos Santos[1] 
rafaeljud@hotmail.com
Universidade Federal de São Carlos

Neste ensaio pretendemos apresentar alguns resultados de vivências realizadas no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/UFSCar).  O objetivo central do PIBID é oferecer a alunos de diferentes licenciaturas da UFSCar vivências em escolas públicas da cidade de São Carlos que contribuam com sua formação, levando em conta os diversos aspectos envolvidos na profissão docente.
 [...] A formação do educador não se concretiza de uma só vez. É um processo. Não se produz apenas no interior de um grupo, nem se faz através de um curso. É o resultado de condições históricas. Faz parte necessária e intrínseca de uma realidade concreta determinada. Realidade esta que não pode ser tomada como alguma coisa pronta, acabada ou que se repete indefinidamente. É uma realidade que se faz no cotidiano. É um processo e, como tal, precisa ser pensado.
(FÁVERO, 1981, p.16 apud CANDAU; LELIS, 1990, p.61)

Tendo por respaldo esse excerto, pretendo abordar um assunto constante em minhas reflexões que se refere à relação entre teoria e prática e a sua importância na formação do educador. Para isso utilizarei minhas próprias experiências adquiridas no âmbito do projeto PIBID-UFSCar, como também algumas leituras já realizadas. Com este embasamento me direciono a pensar não em uma relação dicotômica entre teoria e prática, mas na existência de um embate entre elas, impossibilitando que uma seja tomada pela outra, sem impedir, ao mesmo tempo, que se realizem como unidade criada por meio deste embate colaborativo e necessário ao desenvolvimento de ambas.
            Assim, acredito que não é possível nas práticas didático-pedagógicas haver a dissociação entre teoria e prática, uma teoria sem prática, sem relação com a vida e reais condições de mudá-la, se apresenta vazia de significados, constituindo-se como um conhecimento desnecessário. Vejo nas “teorias” que se voltam para si mesmas um objeto humanamente pobre e descartável. O que considero verdadeira teoria é aquela que extraída da vida é capaz, ao mesmo tempo, de funcionar como apoio ao desenvolvimento e maturidade da mesma. Segundo Candau e Lelis (1990, p.56) “[...] prática implica em um grau de conhecimento da realidade que transforma e das exigências que busca responder. Este conhecimento da realidade é fornecido pela teoria, tendo a prática, por conseguinte, “elementos teóricos””.  É essa a associação que tenho buscado em minhas experiências e na minha constituição identitária como educador.
No momento em que nos dispomos e permitimos a nos constituir como professores, principalmente, atuantes em escolas públicas é essencial termos por base essa relação entre teoria e vida. Devemos estar conscientes que não basta simplesmente termos domínio dos conteúdos curriculares se a proposta não é uma transmissão de conhecimentos da cabeça do professor à do aluno, mas uma construção a partir de vivências humanas, transformando as dificuldades em fontes de conhecimento que permitam a realização da experiência e a formação de um sujeito da experiência.
O sujeito da experiência seria algo como um território de passagem, algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos. Se escutamos em francês, em que a experiência é “ce que nous arrive”, o sujeito da experiência é um ponto de chegada, um lugar a que chegam as coisas, como um lugar que recebe o que chega e que, ao receber, lhe dá lugar. (BONDÍA, 2002, p24)

            Com isso, escapamos de pensar em uma aula calcada sob uma perspectiva estruturalista e nos direcionamos a pensá-la em um viés sociointeracionista, fazendo-a a partir de uma construção e compartilhamento de saberes, juntamente ao compromisso assumido pelo professor como educador. Geraldi (1996, p.73) ilustra esse processo defendendo que “o desafio é não transformar o ensino em mera transmissão de saberes e conhecimentos, mas que queiram implementar uma educação cujo objetivo essencial é "aprender a aprender".
Esse processo reflexivo vivenciado por meio do PIBID permitiu reconhecer que “a produção de teorias sobre o ensino não é propriedade exclusiva das universidades ou centros de pesquisa, podendo ser gerada pelo professor no desenvolvimento de sua prática” (VIEIRA-ABRAHÃO, 2001). Nos contextos investigados foi possível experimentar situações nas quais os professores em parceria colaborativa com os pibidianos assumiram o papel de produtores de conhecimento sobre suas práticas e não somente eram consumidores de teorias geradas por um pesquisador externo.

Referências
BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Trad. GERALDI, J. W. Revista Brasileira de Educação nº 19, 2002.
CANDAU, V. M.; LELIS, A. I. A relação teoria-prática na formação do educador. In. Org. CANDAU, V. M. Rumo a uma nova didática, 3º Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1990.
GERALDI, J. W. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas: Mercado de Letras – ALB, 1996.
VIEIRA-ABRAHÃO, M. H. Uma Abordagem Reflexiva na Formação e no Desenvolvimento do Professor de Língua Estrangeira. In: Contexturas: Ensino Crítico de Língua Inglesa. Indaiatuba, n. 5, p. 153-159, 2000/2001


[1] Orientado pela professora doutora Isadora Valencise Gregolin.

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