quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Leila Figueiredo de Barros

Educação, autoria e responsividade: um olhar nas competências leitoras
 [1]Leila Figueiredo de Barros      
 [2](MeEL – UFMT)

            Para falar em educação, autoria e responsividade[3] em um universo escolar, muitos educadores se deparam com vários desafios cotidianamente.
A escola, primeiramente, sempre teve como meta o desenvolvimento do aluno a fim de que esse prossiga em seus estudos, mas pode-se dizer que o grande índice de reprovação, em conformidade com Rojo (2009), ainda é um dos principais fatores que permitem o processo de evasão escolar. Pergunta-se ainda, segundo a autora, se o fracasso enfrentado na escola do século XX é culpa do aluno, do professor ou do ensino ministrado na escola.
                Para o século XXI ficaram grandes desafios tais como enfrentar e amenizar as questões relacionadas às exclusões na escola. Outro fator é melhorar a qualidade de ensino, em que se podem ensinar questões que sejam pertinentes ao avanço social e intelectual de cada aluno, permitindo uma educação focada nas capacidades e habilidades, que ajudem os estudantes a encontrarem seus objetivos, que não seja apenas o de realizar um teste ao final da escolaridade básica, mas que sejam despertadas responsabilidades leitoras e autorais.
                Quando mencionamos a educação, autoria e responsividade, pensamos, num primeiro momento, que a escrita é resposta de alunos leitores, que vêem na leitura um ato importante para construtos autorais. Talvez, ousaríamos dizer que quem não lê também não tem facilidades para escrever. Em outras palavras, é preciso ser um bom leitor para ter autoria no que se produz.
                Então, a partir disso, entendemos que a falta de manuseio de livros diversificados e investimentos mais concretos em produções textuais do aluno talvez sejam as raízes do problema. Na verdade, todos educadores revelam enormes anseios pelo desenvolvimento de alunos preparados para o mercado de trabalho. Mas, para isso, esse aluno necessita olhar nas entrelinhas de um texto de forma crítica e perspicaz, é importante tornar-se um sujeito imbricado num processo de valoração significativa, ou seja, tudo o que se lê precisa estar inserido num contexto sócio- histórico. 
Assim, ser autor é fazer com qualidade aquilo que se gosta de fazer, deixar suas pegadas na areia, ou melhor, as marcas de sua forma composicional e estilística. Essas marcas independem se são norteadas pela escrita ou pela oralidade, o indispensável é nunca esquecer que nos constituímos pelo outro, só nos renovamos como pessoa a partir do olhar do outro sobre nós mesmos.
 Ser autor e leitor no século XXI é responder e interagir dialogicamente, de forma que se possam imprimir intenções em um determinado discurso, tendo como função apresentar forma ao enunciado.
            É importante que tanto aluno como professor respondam com responsabilidade e responsividade às questões imbricadas na sua vida cotidiana, isto é, pelos contextos extraverbais.
Para Bakhtin/ Voloshinov (1926), o contexto extraverbal se explica primeiramente, por três fatores:
-   o espaço comum dos interlocutores;
-   o conhecimento partilhado da situação;
-   a avaliação comum desta situação.
            Na verdade, tudo o que acontece em nossa jornada cotidiana depende  desses três elementos básicos, tendo em vista que os acontecimentos ocorrem de formas diferentes, um em maior relevância e outro em menor. De acordo com Bakhtin/Voloshinov (1926):
[...] a situação extraverbal [...]  não age sobre o enunciado [...] como se fosse uma força mecânica. [...] A situação se integra ao enunciado como uma parte constitutiva essencial da estrutura de sua significação. Consequentemente, um enunciado concreto [...] compreende duas partes: [1] a parte percebida ou realizada em palavras e (2) a parte presumida. É nesse sentido que o enunciado concreto pode ser comparado ao entimema.” (p. 09). [...] Julgamentos de valor presumidos são [...] não emoções individuais, mas atos sociais regulares e essenciais. Emoções individuais podem surgir apenas como sobretons acompanhando o tom básico da avaliação social. O “eu” pode realizar-se verbalmente apenas sobre a base do nós.
 (BAKHTIN/VOLOSHINOV 1926. p. 9-10)

A produção da autoria é um dos lugares possíveis para se mostrar toda historicidade estilística do percurso desenvolvido pelo professor e aluno no contexto social e cultural em cada tempo e espaço escolar. Na medida do possível, alunos e professores, se revelam por meio dos ditos presumidos, ou seja, aquilo que não se precisa dizer em palavras, mas já está dito nas entrelinhas, pelos atos e formas concretas de suas respostas conscientes.
            As várias áreas do conhecimento, como, por exemplo, a linguagem, a literatura, a filosofia contribuem de forma significativa para a postura consciente de professores e alunos, tendo em vista que essas diversidades de conhecimento possibilitam que o dizer autoral cresça amplamente em questões científicas. Hoje, na escola, quando o professor leva situações pertinentes para a realidade do aluno, o mesmo responde ativamente para construir um enunciado sem álibis, em que todos têm o dever de responder e contribuir para um social político e pedagógico dentro e fora da escola. Pois se o professor estiver convicto que a leitura e a escrita são primordiais para o aluno, o mesmo atuará responsivamente em prol do desenvolvimento intelectual e vai trazer para as salas de aula ferramentas necessárias para a constituição de alunos proficientes tanto na escrita como na oralidade. No processo educacional, não basta estarmos convictos que é preciso fazer alguma coisa pela educação, é necessário agir por meios de atos concretos e enunciativos.  Para Bakhtin
[...] o homem está na arte não está na vida e vice versa. [...] é bom que o homem da vida saiba que a sua falta de existência e a falta de seriedade das suas questões vitais respondem pela esterilidade da arte. O individuo deve tornar-se inteiramente responsável: todos os seus momentos devem não só estar lado a lado na série temporal de sua vida, mas também penetrar uns nos outros na unidade da culpa e da responsabilidade. (BAKHTIN, 2010 p. XXXIII – IV)

            Então, cada pessoa, cada educador, necessita produzir ressonâncias no outro, pois cada sujeito é responsável e “respondível” pelos seus atos.
Então, ser autor numa perspectiva bakhtiniana é ultrapassar limites, apresentar de forma contextualizada o seu acabamento interlocutivo e dialógico. Por meio do acabamento encontra-se a maneira singular de cada pessoa, de cada educador, de cada aluno. Trata-se de um acabamento que não é eterno, o professor e o aluno estão sempre renovando seus conceitos, suas ideias, por isso ocorre um acabamento estético (suas próprias formas de dizer) e provisório, sempre aberto a novos sentidos por estar imbricado às condições sócio-históricas de possibilidades enunciativo-discursivas.

Referencias Bibliográficas
BAKHTIN, M. M.[1920-1924]. Para uma filosofia do ato responsável, (org.) Augusto Ponzio, com trad. de Carlos Alberto Faraco e Valdemir Miotello. Pedro e João Editores, 2010.
BAKHTIN, M. M. [1919]. Arte e responsabilidade. In:_____.Estética da Criação Verbal. Trad. de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
_________.[1952-1953]. Os gêneros do discurso. In:______.Estética da Criação Verbal. Trad. de Paulo Bezerra, 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
CLARK, K.; HOLQUIST, M. Mikhail Bakhtin. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2004.
ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009.
SOBRAL, Adail – “Ato/atividade e evento” in: BRAIT, Beth (org.) – Bakhtin conceitos chave, São Paulo, Contexto, 2005.


[1] Aluna  do Programa de Pós-graduação do Mestrado em Estudos de Linguagens/MeEL / UFMT, sob orientação da professora doutora Simone de Jesus Padilha.
[2] Programa de Pós-graduação de Mestrado em Estudos de Linguagens/ UFMT.
[3]  O caráter de “responsibilidade” e de “participatividade” do agente que une responsabilidade - o responder pelos próprios atos. E a “responsividade define-se em responder a alguém ou a alguma coisa.”  SOBRAL (2005, p. 20).

Nenhum comentário:

Postar um comentário