quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Iara Cardoso Lopes, Cláudia Graziano Paes de Barros

Alunos e professores, sujeitos responsivos
Mestranda: Iara CARDOSO-LOPES
iaracl84@hotmail.com (PPGEL-UFMT)
Orientadora: Cláudia Graziano PAES DE BARROS
claudiagpbarros@gmail.com (PPGEL-UFMT)

O tema Responsividade Bakhtiniana é muito pertinente para se discutir o ensino, uma vez que as idéias que Mikhail Bakhtin cunhou consideram o sujeito numa dimensão ativa, isto é, o sujeito responde a todo instante. O sujeito, no pensamento bakhtiniano faz parte de um  processo, de um continuum na vida,  de um todo que está no vir-a-ser, no devir, haja vista que ele  se identifica no outro (no tu), isto é, a consciência de si mesmo só é possível por intermédio do outro e, por conseguinte da linguagem. Sempre estamos respondendo, falando, gesticulando, gritando, escrevendo,  até mesmo silenciando, em muitas circunstâncias. . Todas essas respostas são prenhe de tons, entoações e apreciações ideológicas, “(...) não só compreendemos o significado de dada palavra enquanto palavra da língua como ocupamos em relação a ela uma ativa posição responsiva – de simpatia, acordo ou desacordo, de estímulo para a ação (BAKHTIN, 2010, p.291).”
Diante disso, podemos dizer que, de acordo com a acepção bakhtiniana de sujeito, todo e qualquer Estado/Governo respondem aos cidadãos de uma dada comunidade. Por exemplo, a Lei de Diretrizes e bases da Educação de 1996 (Lei no 9.394, art. 205) afirma que a Educação é direito de todos e obrigação do Estado e da família; que será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade e que tal determinação visa o pleno desenvolvimento do sujeito, bem como seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o mercado de trabalho. Temos aí uma resposta à sociedade, ao cidadão, ao aluno, aos pais. A partir desse ponto de vista legal, perguntamo-nos: porque ainda há crianças fora da escola? Porque ainda há cidadãos analfabetos que desconhecem até mesmo o código lingüístico de sua língua materna? Porque a evasão e repetência persistem? Porque o nível de leitura dos alunos é tão ínfimo em comparação a outras nações? O objetivo dessas indagações, neste momento, não é respondê-las, mas sim fomentar o debate a fim de refletir sobre o tema.

A escola é, ou deveria ser, a instituição social responsável pela formação crítica desse sujeito aluno, pela sedimentação de seus construtos lingüísticos, discursivos, artísticos, etc. a fim de que ele exerça, responsável e responsivamente, a sua cidadania.  Entretanto,  na realidade brasileira, é de conhecimento de todos que não é bem assim que acontece na prática pedagógica. O que temos é uma política pública que desvaloriza a categoria dos professores, tendo em vista a carga horária, a remuneração, a infra-estrutura (muitos prédios descorados e mórbidos), ausência de uma biblioteca, etc. ANTUNES (2003).Todos esses fatores ‘incentivam’ o fracasso escolar, a evasão, a repetência, bem como o desânimo profissional de muitos docentes.
No caso específico do ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, observamos, muitas vezes que  o sujeito/aluno já chega à escola fazendo uso da linguagem. O que lhe falta é saber fazer tal uso adequadamente atrelado  aos efeitos de sentido que deseja engendrar. Mas a concepção de ensino tradicional, que ainda vigora em nossas escolas públicas, sem muita eficácia para o atual contexto sócio-histórico persiste permear nas salas de aula, e os alunos continuam a repetir, como um papagaio, o discurso mecânico e sem autoria. Eles o fazem porque os seus mestres lhes indicam apenas esse caminho, esse horizonte. Diante de tal conjuntura escolar, é improvável que o aluno se perceba enquanto um sujeito ativo para as temáticas  sociais, pessoais  ou que veja além daquilo que lhes mostram. Um olhar investigativo que desenvolva marcas lingüísticas, estilísticas e discursivas é tão ínfimo nas atuais práticas de ensino-aprendizagem que parece até impossível.
O senso comum nos diz: “eles não aprendem porque não querem... não prestam atenção... não querem nada da vida...” mas, como querer, quando a escola não lhes oferece nada de ‘interessante’? Se a escrita que lá lhes ensinam não tem destinatário; se a leitura é fragmentada e sem sabor; se a biblioteca está empoeirada, pois quase ninguém a visita; se o professor é tão mal remunerado que nunca tem tempo para ler, ir à biblioteca e ficar divagando acerca de qualquer romance?... Ninguém começa a gostar de ler só porque fulano disse que é legal. Não se deve pensar que se o aluno quiser  “uma vida melhor”, uma ascensão social, irá tê-la por força de vontade. Como já dissemos é função do Estado oferecer uma boa formação escolar, uma vez que está assegurado por lei que todo cidadão tem direito a cursar obrigatoriamente o Ensino Fundamental.Tem que haver algo maior, algo que os motive. Ora, mas como o professor irá pensar em ‘coisas interessantes’ se tem aula de manhã em quase todas as séries, e à tarde da mesma forma?
Há dias, temos visto alguns discursos circulando a favor do professor pela rede social Facebook. Tal fenômeno é bastante curioso. Uns dos mais recentes dizem o seguinte:
Salário do Governador Anastasia aumentou 30%: de R$13.400,00 para R$17.200,00.
O salário do vice do Anastasia e de seus secretários aumentou de R$10.000,00 para R$12.900,00.
Os professores, EM GREVE POR MOTIVOS SALARIAIS, tiveram aprovados um aumento de R$765,00 PARA R$803,25, ou seja, 5%.
Se vc tem vergonha de políticos assim. Se vc apoia os professores, comente, copie e cole em seu mural!!! ACORDA, BRASIL!!!
O que significa ser professor nas palavras do Deputado Federal Cid Gomes:
"Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado." - Cid Gomes, atual governador do estado do Ceará.

SE VOCÊ ACHA QUE O GOVERNADOR DEVE DOAR SEU
SALÁRIO E GOVERNAR POR AMOR, CURTA AQUI E COLE NO SEU MURAL! E PARTICIPE DA CAMPANHA: CID GOMES, DOE SEU SALÁRIO!

Esses discursos são interessantes na medida em que a problemática da Educação vem à tona. É importante tal temática estar sendo discutida numa rede social, pois significa que a sociedade está, aos poucos, se mobilizando, respondendo... Participar de tal evento é um passo bastante significativo em nossa sociedade, tendo em vista que não temos a cultura de revolução, de ir para as ruas e lutar por ideais, de participar politicamente das questões sociais. Pensar que tal discussão se inicia numa rede social, na dimensão virtual – a internet -, parece insignificante, nada profícua. Todavia, nos esquecemos que estamos inseridos num contexto social virtual, tecnológico digital e que muitas coisas têm acontecido nesse âmbito, notadamente a queda de alguns ditadores do Oriente que teve início nas redes sociais. Por isso, é fundamental que a internet seja um espaço de discussão acerca das questões sociais de infinitas temáticas e que professores e alunos possam participar democraticamente desse evento social. E que o façam responsiva e responsavelmente de modo que aqueles que os circundam se sintam incomodados e encorajados a participarem também.
Diante disso, podemos dizer que a Resposta (nada) Responsável que o Estado tem dado à Educação, ao professor e ao aluno não tem sido suficiente para que os sujeitos se tornem capazes de tomar a palavra a fim de “fazer valer seus direitos, para participar ativa e criticamente daquilo que acontece à sua volta” (ANTUNES, 2003,p.20). Ou seja, certamente, irão ficar à margem das decisões e discussões políticas de construção da sociedade.

REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
___________. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2009.
___________. A pessoa que fala no romance. In. Questões de literatura e estética. São Paulo, editora UNESP, 2000, 5ª edição.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa: 1° e 2° ciclo, Brasília: MEC/SEF. 1998.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa: terceiro e quarto ciclo, Brasília: MEC/SEF. 1998.
PADILHA, Simone de Jesus. Relendo Bakhtin: Reflexões iniciais. Polifonia, Cuiabá: EdUFMT (19), p. 103-113, 2009.
PAES de BARROS, Cláudia Graziano. “A Compreensão ativa e criadora”: uma proposta de ensino aprendizagem de leitura do jornal impresso. São Paulo: PUC-SP, 2005. Dissertação (Doutorado em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem), Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.

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