quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Alda Mendes Baffa

A ética e a estética no discurso dos professores formadores de professores.
Alda Mendes BAFFA
aldambaffa@osite.com.br
GEPEC – Unicamp

                                 “ O outro está continuamente nos acabando”
(Bakhtin, 2000)
           
Vivenciando a educação de diferentes lugares (professora alfabetizadora, coordenadora pedagógica, diretora escolar, professora universitária e pós-graduação) sempre tive como grande objetivo de estudo a formação de professores.
            A formação docente sempre foi (e será) tema importante nos debates educacionais atrelada a ideia que o instrumento na mesma é um dos meios de melhorar a qualidade do ensino no pais, formando um sujeito pensante. E assim não foi feito diferente neste estudo que agora apresento, esperando compartilhar com meus interlocutores as experiências vividas em sala de aula, tendo como meta principal a formação de professores intermediada pela linguagem, pois, somos sujeitos constituídos por ela.
            Trabalho com formação de professores há 16 anos e a linguagem e o discurso dos professores formadores de professores mudou de uns tempos para cá. Contextualizando a formação de professores no Brasil intermediado pela linguagem, segundo estudo elaborado por esta pesquisadora notamos ao entrevistar os professores formados nas décadas de 70-80 que durante sua formação ouviram um discurso fechado autoritário no qual se ouvia só uma voz:  a do professor que os estava formando. Não havia abertura, o abraço acolhedor às contrapalavras dos seus alunos.
Eram freqüentes, em sala de aula, frases como estas:
- Cala a boca e senta !
- Não me interessa sua opinião !
- Você sabe com quem está falando !
- Vou fazer deste jeito e pronto. Vocês só copiem !
- Aluno que pergunta muito atrasa o meu planejamento.!
Ao relatar suas experiências, os professores formados com este discurso “monológico” no qual só se ouvia uma voz (do professor) e refletindo sob sua responsabilidade ao formar novos professores (décadas de 90-2000) usam, outro tipo de discurso, segundo a referida pesquisa,: um discurso onde se ouve a voz dos seus alunos. Assim ouvimos as seguintes frases nas entrevistas realizadas:
- Analisem o texto e emitam suas opiniões sobre o assunto. Deem boas razões para pensarem assim!
- Vamos recortar e fazer juntos o próximo desenho!
- O que você pensa sobre este parágrafo !
Assim na polifonia de vozes destes  novos discursos estavam se formando os novos professores do Centro Específico de Formação de Aperfeiçoamento de Magistério (CEFAM) na cidade de Santo André, curso infelizmente instinto em 2003 ( nova LDB 1996).
            Perceberam os professores formadores da década 1990-2000 que era preciso pensar. Os alunos devem ser chamados a pensar, pois segundo, Bakhtin (2010): “somente o ato de pensar pode ser Ético”. O outro me exige esse pensamento, na formação de um ser ético diferente de mim.
            Não podemos só falar de Ética, mas também da Estética no discurso do professor formador de professores. Segundo Bakhtin (2000) “ uma obra é Estética quando há um acabamento”. Assim a Ética está presente em questões como dialogismo, o processo em si de interação entre professores e alunos. Ao refletir sobre o seu discurso e olhar para si mesmo e para o seu aluno o professor formador de professores avalia seu discurso, sua aula, garantindo o reconhecimento do outro como ser em, continua formação, agindo e fazendo (no sentido Ético de seu ato) ”refletir sobre o agir (elaboração Estética) do acabamento de sua aula.

Referências:
BAKHTIN, Mikhail, Marxismo e filosofia da linguagem, 9ª. edição, São Paulo: Hucitec,1999.
BAKHTIN, Mikhail, Estética da Criação Verbal,, 3ª. edição, São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BAKHTIN, Mikhail, Para uma filosofia do outro responsável,, São Carlos: Pedro&João Editores,2010.
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. Campinas: Editora da Universidade estadual de Campinas, 2001.
CLARK, Katerina e HOLQUIST, Michael. Mikhail Bakhtin. São Paulo: Perspectiva, 1998
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Pratica E|ducativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998
GERALDI, João Wanderley, Portos de Passagem. 4ª.. edição.São Paulo: Martins Fontes, 1997. 

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