A educação em/na rede: uma perspectiva dialógica
Tatiana Aparecida Moreira
(PMV/PMVV/UFES)
moreira.tatyana@gmail.com
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) vêm dinamizando e diversificando o processo ensino-aprendizagem, via Internet, pois encurtam distâncias e ampliam os diálogos existentes entre os interlocutores, professores/tutores e alunos e entre os próprios alunos, propiciando, dessa forma, uma interação que quebra barreiras e fronteiras.
Muitos ainda são os desafios enfrentados no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), principalmente em relação aos usos das ferramentas. Estamos todos nos adaptando, essa é a nossa realidade. Como é trabalhar e estudar em um ambiente virtual? Essa pergunta só pode ser respondida por quem vive o dia a dia da plataforma e os seus “mistérios” a desvelar, pois saber utilizar os diferentes recursos, como wiki, chat, e-mail, fórum, entre outros, requer disciplina, paciência, dedicação, perseverança e motivação. Aliás, essa palavra é muito ouvida nos cursos de formação para tutores. Quer desafio maior do que se manter motivado a fazer um curso em que “tudo” depende “só” de você? Engana-se quem pensa assim, pois Bakhtin (2003, p. 300) já dizia que o “falante não é um Adão bíblico, só relacionado com objetos virgens ainda não nomeados [...]”, tendo em vista que os interlocutores são ativos no processo e não seres passivos que não interagem uns com os outros.
Como manter, então, alunos e professores/tutores motivados? Parece-nos que a motivação deve ser construída coletivamente, uma vez que é na relação eu-outro, que é dialógica, que acontece a interação que se desdobra em diferentes conexões e novas formas de aprendizado nos mais distintos ambientes de educação à distância. Assim, esse novo processo ensino-aprendizagem já nasce com um olhar exotópico sobre o outro, pois, em sua constituição, já se delineiam a interação e a participação que acontecem em rede e não isoladamente.
Assim, é preciso se fazer e ser presença no ambiente virtual para que a aprendizagem seja dialógica, uma vez que esse processo se realiza por meio de um ato responsivo, pois os interlocutores (professor/tutor e aluno) recebem as atividades propostas e essas palavras dos outros trazem consigo “[...] o seu tom valorativo que assimilamos, reelaboramos, e reacentuamos” (BAKHTIN, 2003, p. 295). Dessa forma, o processo educacional em/na rede vem como uma resposta responsável às novas demandas de um mundo moderno e conectado, ampliando o acesso e a participação de distintas vozes da sociedade e de suas respectivas práticas culturais, nas diferentes etapas da educação.
Essa interlocução com o outro possibilita uma maior troca de informações, de experiências, de novos conhecimentos, enfim, representa projetar seu olhar sobre o outro, pois é preciso saber compreender e incorporar as novas linguagens de forma a também auxiliar o outro a interagir e a compartilhar o que se apreendeu com os diferentes outros, tendo em vista que há muitas atividades coletivas realizadas nos ambientes virtuais, como é o caso do wiki, e que precisam de diálogo. Assim, para Bakhtin (2003, p. 356, grifo do autor):
A palavra, a palavra viva, indissociável do convívio dialógico, por sua própria natureza quer ser ouvida e respondida. Por sua natureza dialógica, ela pressupõe também a última instância dialógica. Receber a palavra, ser ouvido. É inadmissível a solução à revelia. Minha palavra permanece no diálogo contínuo, no qual ela será ouvida, respondida e reapreciada.
Essa citação é apropriada sobre o que dissemos a respeito da responsividade existente no ambiente virtual, pois “Ser significa ser para o outro e, através dele, para si” (BAKHTIN, 2003, p. 341). Ou seja, é por meio do olhar do outro, colocar-se no lugar do outro, que as relações dialógicas acontecem e se renovam a cada nova conexão/interação.
O dialogismo existente nas redes sociais, que são compostas pelos atores (participantes) e pelas relações que estabelecem entre si (RECUERO, 2006), possibilita, como dissemos, “[...] estudo em grupo, troca de conhecimento e aprendizagem colaborativa” (BOHN, 2009, p. 1) e isso tem relação com o que Bakhtin diz a respeito de a palavra comportar duas faces, pois a palavra
[...] é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor (BAKHTIN, 1995, p. 113).
Assim, a palavra, em um sentido mais amplo, realizada, sobretudo, por meio das conexões estabelecidas entre os interlocutores por meio da web, nos mais distintos ambientes virtuais de aprendizagem, dinamiza a interação e faz com que o processo ensino-aprendizagem, na modalidade à distância, seja dialógico e aconteça realmente de maneira plural em/na rede.
Há muito ainda a se (re)conhecer e (re)aprender com os diferentes outros que encontramos na rede. Obstáculos? Angústias? Alegrias? Vitórias? Companheirismo? Os ambientes virtuais de aprendizagem podem proporcionar tudo isso. Depende, é claro, do quanto se está disposto a lançar-se nessa ponte dialógica, na sua reflexão e refração com o outro, pois viver significa participar de um diálogo inconcluso (BAKHTIN, 2003) que se renova e se transforma toda vez que interrogamos, ouvimos, respondemos, concordamos, enfim, valoramos essa relação dialógica, que é móvel, responsiva e ilimitada.
Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Estética de Criação Verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
______; VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi. 7. ed. São Paulo: Hucitec, 1995.
BOHN, Vanessa. As redes sociais no ensino: ampliando as interações sociais na web. Disponível em: http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/temas-especiais-
26h.asp. Acesso em: 04 abr. 2011.
RECUERO, R. Comunidades Virtuais em Redes Sociais na Internet: proposta de tipologia baseada no fotolog.com. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, UFRGS, 2006. 334 f . (Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação).
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